Relacionamentos modernos: expectativas altas, laços frágeis
Autor: *Aline Mara Gumz Eberspacher
No Dia dos Namorados, comemorado no Brasil em 12 de junho, é comum observar um aumento nas manifestações românticas, especialmente nas redes sociais. Fotos de casais apaixonados, declarações públicas de afeto e momentos cuidadosamente encenados dominam os feeds. No entanto, por trás dessa exibição, há um fenômeno mais complexo: a crescente dificuldade de construir e manter relacionamentos amorosos saudáveis.
Diversas pesquisas e relatos apontam que, apesar dos avanços sociais e científicos, os vínculos amorosos parecem estar mais frágeis. O caso da modelo Yasmin Brunet, por exemplo, é ilustrativo. Bonita, bem-sucedida e irada por muitos, ela não hesita em compartilhar nas redes sociais sua dificuldade em encontrar um parceiro após a separação. Está solteira há três anos e relata com franqueza a solidão que enfrenta. Embora o caso dela seja individual, reflete um cenário que atinge muitas pessoas, independentemente de beleza ou status social.
Mas, por que está tão difícil criar laços sólidos e confiáveis? Se para a geração dos baby boomers o amor era celebrado em canções e festas, hoje ele parece ultraado, até “demodê”. Havia uma valorização das palavras românticas, demonstração de carinho e uma cumplicidade entre os parceiros, não expondo o relacionamento nas redes. E esse é um dos principais motivos apontados, especialmente pelos jovens, a falta de confiança. A desconfiança reina e muitos têm medo de se entregar a um relacionamento verdadeiro. O excesso de exposição da intimidade nas redes sociais causa insegurança em se envolver afetivamente. Além do mais, falar de sentimentos e demonstrar amor ou a ser quase motivo de chacota.
As formas de se relacionar também mudaram. Para muitos, não há necessidade da monogamia, o poliamor se tornou uma possibilidade, com a opção de morar juntos ou separados. E isso faz com que encontrar um parceiro que compartilhe de seus objetivos e valores seja um desafio ainda maior, aumentado a insegurança no momento de se relacionar afetivamente.
A ascensão feminina no mercado de trabalho também reconfigurou as dinâmicas amorosas. As mulheres tornaram-se independentes, autônomas e menos propensas a manter relacionamentos apenas por necessidade financeira. Uma pesquisa da BBC revelou que, para não permanecerem sozinhas, muitas mulheres estão aceitando parceiros com menor escolaridade ou renda. Segundo a reportagem, quanto mais as mulheres crescem na vida “se casar para baixo” virou a única saída. Esse fenômeno, conhecido nas ciências sociais como a ascensão da hipogamia, tem sido discutido amplamente e traz à tona o desequilíbrio entre as expectativas sociais e as realidades afetivas.
Outro fator que contribui para esse cenário é a expectativa irreal que se projeta sobre o outro, o desejo de um parceiro Instagramável. Espera-se que o parceiro ou parceira seja bonito, inteligente, financeiramente estável, romântico, bem-humorado, ou seja, a lista continua. Esse nível de exigência gera frustração e ansiedade, pois não há espaço para a imperfeição ou para o desenvolvimento mútuo dentro da relação.
As redes sociais, por sua vez, surgem como um dos elementos centrais nessa discussão. Elas permitem que as pessoas compartilhem momentos da vida pessoal, mas essa exposição em excesso tem seu preço. A busca por validação, a comparação constante com os outros e a necessidade de ostentar uma imagem de felicidade acabam por distorcer a vivência real dos relacionamentos. Em vez de fortalecer os vínculos, muitas vezes as redes contribuem para sua superficialidade.
Em suma, os relacionamentos amorosos enfrentam desafios inéditos na contemporaneidade. A influência das redes sociais, as mudanças de papel de gênero, o excesso de expectativas e a falta de confiança têm tornado o amor mais difícil de ser vivido de forma genuína. Falar de amor pode até parecer antiquado para alguns, mas talvez seja justamente o resgate desse sentimento, em sua forma mais simples e verdadeira, que nos ajude a reconstruir os laços que andam tão frágeis.
*Aline Mara Gumz Eberspacher é doutora em Sociologia pela Université Paul Valéry, na França, e coordenadora de pós-graduação da Uninter.
Autor: *Aline Mara Gumz Eberspacher
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